Variações linguísticas: o que são, tipos, exemplos

Postado 30 de maio de 2022

Uma das características das línguas é o dinamismo, isto é, o conjunto de transformações constantes que ocorrem nos mais variados idiomas em razão de fatores como convenções sociais, momento histórico, contexto ou região em que um falante ou grupo social se insere. Com relação a mudanças históricas na língua portuguesa, é possível citar como exemplo o pronome de tratamento “Vossa Mercê”, que sofreu diversas alterações ao longo do tempo: “vosmecê”, “você” até chegarmos ao “cê”.  

Além dessas mudanças que ocorrem ao longo do tempo, as variações da língua também estão relacionadas com o espaço geográfico. O Brasil é um país de proporções continentais e, por esse motivo, extremamente diversificado quando falamos de etnias e culturas. Com relação aos usos da língua portuguesa, não poderia ser diferente: ao viajar por nosso país, é possível conhecer uma imensa variedade de palavras e de modos de falar. A diversidade de formas de se expressar em um determinado idioma é o que chamamos de variante linguística 

Devido ao fato de esse ser um tema recorrente em muitas provas de vestibulares, conhecer os tipos de variedades linguísticas é fundamental para que você não só compreenda os diferentes modos de se expressar em determinado idioma, como também os processos por meio dos quais essas variações são constituídas. Se você quer saber melhor quais são os tipos de variedades linguísticas, não deixe de ler este texto até o final!  

 

Quais são os tipos de variação linguística? 

Uma vez que as línguas possuem forte caráter dinâmico, um padrão para cada língua foi convencionado de forma que existisse um formato que, teoricamente, fosse compreendido entre todos os falantes. Assim surgiu a variante linguística denominada “norma culta” ou “norma padrão”, que não deixa de ser um dos exemplos de variações linguísticas.  

Essa variante foi estabelecida de acordo com o que era considerado o “bem falar” por gramáticos e a partir de textos escritos. Escritores como José de Alencar e Machado de Assis, por exemplo, além de outros autores do século XIX, foram importantes para a criação de uma convenção de escrita do português brasileiro. A norma culta é a variante de mais prestígio na sociedade, mas é preciso que as demais sejam reconhecidas, pois também cumprem sua principal função que é de estabelecer uma comunicação efetiva entre os falantes de determinada língua.  

Agora que você já sabe que a “norma padrão” é uma variante linguística, confira outros tipos de variedades linguísticas: 

  1. Variantes linguísticas diatópicas (geográficas): são as variedades linguísticas que sofrem forte influência do espaço geográfico ocupado pelo falante. Podemos citar como um dos exemplos de variações linguísticas diatópicas no âmbito do vocabulário, o tubérculo que — a depender da região do Brasil —pode ser designado “aipim”, “macaxeira” ou “mandioca”. Há também alterações com relação ao sotaque, uma vez que pessoas podem pronunciar certas palavras ou fonemas (sons) de modo particular.

  2. Variantes diacrônicas — históricas: são variedades linguísticas que eram empregadas no passado, mas que ou caíram em desuso, ou são mais raras nos dias de hoje. Esse tipo de variante pode ser percebido por meio dos arcaísmos — palavras ou expressões que caíram em desuso com o decorrer do tempo. As mesóclises (“fá-lo-ia”, isto é, “eu o faria”), que hoje praticamente ninguém mais usa ao falar ou ao escrever, são exemplos de variante linguística diacrônica.

  3. Variantes diastráticas — sociais: as variações diastráticas podem ser definidas como aquelas variantes linguísticas determinadas pelos diferentes modos de falar de grupos sociais formados pelos falantes da língua. Os grupos sociais são heterogêneos uma vez que detêm conhecimentos, vivências e costumes muito diferentes. Assim, é perfeitamente normal que exista também um modo particular de comunicar-se. Em determinadas situações de fala, somente quem faz parte de determinado grupo social é capaz de compreender a variante falada por ele em sua totalidade. Os jovens youtubers, por exemplo, possuem um vocabulário diferente daquele empregado por médicos, que por sua vez não se comunicam de modo similar aos advogados. É possível afirmar, portanto, que essa variante tem relação com o modo de falar de grupos sociais que possuem características em comum como idade, classe social, nível de escolaridade, profissão, religião, gênero, sexualidade etc.

  4. Variantes diafásicas – situacionais: provavelmente você não vai à praia de terno e gravata e vestido de gala, não é mesmo? O mesmo acontece com uma situação de comunicação: seu modo de falar pode variar conforme o contexto. Situações mais formais requerem uma linguagem mais formal, ou seja, é incomum que pessoas empreguem gírias em entrevistas de emprego ou que falem de modo extremamente formal entre família e amigos. É isso que chamamos de variantes diafásicas: são variantes que estão subordinadas a um determinado contexto social e a uma situação em que o falante se encontra.  

 

A seguir, você entenderá como diferenciar variante linguística de preconceito linguístico, algo que muitas estudantes confundem e, por isso, acabam se prejudicando nos exames de vestibular. Continue a leitura para não cometer esse deslize! 

 

Quais são as diferenças entre variante linguística e preconceito linguístico? 

 

Além das variantes, o preconceito linguístico também é um tema recorrente em provas como o Enem e a Unicamp. Mesmo que nossa língua possua os mais diversos tipos de variedades linguísticas, algumas dessas variações são tomadas como mais prestigiosas do que outras por determinados falantes.  

Certos grupos sociais das regiões Sul e Sudeste do Brasil, por exemplo, consideram que modos de falar próprio do interior de estados como Minas Gerais ou São Paulo podem ser alvo de deboche, porque classificarem como imperfeitos, fora de moda ou mesmo tidos por errôneos em relação às variantes usadas nas capitais.   Quando o juízo sobre se um uso linguístico está correto ou não se transforma em julgamento de caráter sociocultural contra alguém ou algum grupo de falantes, então temos a configuração de preconceitos linguísticos. 

Dessa forma, o preconceito linguístico está fortemente relacionado com as variações linguísticas, uma vez que a partir dele surge um julgamento que considera determinadas manifestações linguísticas supostamente superiores. Entretanto, é preciso ressaltar que todas as variações são aceitas e nenhuma delas é superior ou deve ser considerada a mais correta. 

Nós, do Curso Anglo, esperamos que esses exemplos de variações linguísticas o ajudem a compreender melhor o que são variantes linguísticas, como elas ocorrem naturalmente e por que é tão importante se precaver contra preconceitos linguísticos. 

Até mais!

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